domingo, 10 de junho de 2007

ARRAIAL CHIQUE

Sou de outubro, um mês lindo, mas confesso que sempre tive uma pontinha de inveja de quem nasce em junho e pode comemorar o aniversário com uma bela festa junina. Fiquei tão feliz quando soube que a Ana, a minha filha mais nova, nasceria em junho que não resisti e levei umas bandeirinhas, pés-de-moleque e paçoquinhas para a maternidade. Assim, como já estamos em junho, achei que seria bem interessante falar de festa junina, que acontece, há uns 2 mil anos, na época do solstício de verão europeu, quando se comemorava o início das colheitas.

Transformar o quintal da sua casa num arraial pode até ser um pouquinho trabalhoso, mas a festa fica tão linda que compensa. Acho o máximo um quintal enfeitado com bandeirinhas, lanternas coloridas e balões de mentira (dá para comprar tudo pronto, mas não é nem um pouco complicado, e é até divertido, cortar bandeirinhas de papel de seda e colar nos pedaços de barbante). Retalhos de tecidos alegres com estampas miudinhas e de chita (que agora até entrou na moda) servem de toalha. Para abençoar a festa, bandeiras de Santo Antonio, o santo milagreiro que, além de casamenteiro, sempre dá uma forcinha para encontrar objetos perdidos; São João, que é o preferido na hora de tentar descobrir quem gosta de quem e adora fogos de artifício bem coloridos; e São Pedro, que tem as chaves do céu e controla o tempo. Quem tem espaço, pode fazer uma fogueira, que passa a ser o centro da festa, aproxima todo mundo e ajuda a espantar os maus espíritos. Para animar a noite, vale a pena chamar um sanfoneiro, que comandará a quadrilha e deixará o casamento ainda mais emocionante. Para completar vêm o pau de sebo, o correio elegante e as barraquinhas de brincadeiras, com prendas e mais prendas, como nas quermesses de antigamente.

Uma boa festa junina pede uma mesa farta e bem variada, com muita pipoca, salgados e doces servidos em cestas, peneiras, saquinhos de papel ou cartuchos coloridos, espetinhos, potinhos e pratos de barro, por isso selecione tantas receitas. Como imaginei servir porções não muito grandes, para todo mundo poder experimentar um pouco de tudo, eu dimensionei as receitas para umas 12 pessoas (numa refeição comum, elas servem 4 ou 6 pessoas).

Procurei escolher receitas gostosas, com ares bem caseiros e que levassem alguns dos ingredientes que sempre aparecem nas festas juninas paulistas, como milho, pinhão, mandioca, batata doce e amendoim.

Para começar, um copo de quentão, bem perfumado e com aquele toque picante que vem do gengibre e da canela. Para espalhar pela casa, de repente até dentro de chapéus de palha forrados com um paninho colorido, incluí a receita de amendoim torrado da minha avó, que é muito fácil, mas deixa os amendoins bem saborosos e com uma camadinha ligeiramente crocante de sal, bem melhores que os dos pacotinhos do supermercado. Como bolinhos sempre fazem sucesso, incluí duas receitas, uma de milho, que é uma delícia e coloridinha, com os pedacinhos de salsinha e de pimentão, e uma de carne moída e mandioca, que dá uns bolinhos crocantes por fora e meio puxa-puxa por dentro, que eu comia quando era criança, dentro de saquinhos como os de pipoca, nas festas juninas de Caçapava e de São Luís do Paraitinga. Para aquecer ao pé do fogo, resolvi servir o creme aveludado de cará, o tutuzinho no potinho (uma versão bem contemporânea, montada com pouco de tutu de feijão, couve, lascas de lombo e por cima um ovinho de codorna) e o arroz com pinhão, bacon e salsinha. Aí vem o cuscuz paulista, de frango ou de camarão, e que sempre agrada.
Começa então a doçaria. Como todo mundo pergunta se existe doce mais doce que o doce de batata doce, ele não poderia faltar e chega cortado em losangos, com um gostinho de leite de coco no fundo e passado no açúcar cristal. As laranjinhas em calda são charmosinhas e ficam lindas em copinhos de cachaça. Para servir em tigelinhas, escolhi um curau bem amarelinho e cremoso (que pode ser feito com milho verde fresco, congelado ou até em conserva), e um delicioso arroz-doce polvilhado com canela. Gosto muito dos bolinhos de pinhão, que são macios e ficam interessantes quando assados em forminhas pequenas (eu usei forminhas para barquetes). Para terminar, vêm a queijadinha, bem rapidinha e simples de fazer, e os super crocantes pés-de-moleque.

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