terça-feira, 1 de julho de 2008

COMIDINHAS QUENTINHAS

Se tem uma coisa que eu adoro é um dia bem frio, gelado mesmo, com aquele céu azul maravilhoso e até um pouco de vento. E acho que até quem diz que adora o verão e o calor de rachar, uma bela praia com um sol maravilhoso e uma água de coco, e que não gosta muito dos tempos de inverno, que dá a maior preguiça de sair da cama, acaba gostando de um friozinho de vez em quando. É a hora de tirar uns casacos, as luvas e o cachecol do armário, de acender uma lareira ou um fogão-de-lenha, juntar umas pessoas queridas e uma boa dose de aconchego, separar um vinho e preparar umas coisinhas gostosas e quentinhas para servir. Sinceramente, por mais que no dia-a-dia seja teoricamente mais saudável viver de pratos mais leves, quase ninguém resiste a um potinho com alguma coisa bem cremosa e fumegante quando bate o frio.Um fondue bem gostoso, quentinho, para comer devagar numa noite bem fria é mesmo uma delícia. Eu, que sou bem ratinha e morro por um pedaço de queijo, adoro aqueles cubinhos de pão rústico envolvidos por uma camada de queijo derretendo. Como, na fazenda, que fica no meio das montanhas do Vale do Paraíba, à noite é sempre friozinho, vira-e-mexe o jantar acaba sendo um fondue, bem fácil de preparar, rápido e sempre agrada. Há uns 12 anos, viajando de carro pelo interior da França com o Carlos, meu marido, e a Bebel, minha filha mais velha e que tinha uns 5 anos, a gente estava passeando pela Savoye, uma região que fica no pé dos Alpes, e parou para dormir em Annency. Fazia muito frio, a gente escolheu um hotelzinho bem bonitinho numa das ruelas estreitíssimas e com umas casinhas lindas e antigas, e depois foi caminhando com aquele vento bem gelado soprando no rosto até chegar a um restaurantezinho muito charmoso que ficava à beira de um dos canais que cruzam a cidade. Era só sentar e eles já traziam uma cesta de pão, uma tigelinha com cornichons, aqueles picles de mini-pepininhos, uma tigelinha com fatias de maçã verde, e a panelinha com um fogareiro cheia de fondue de queijo, afinal de contas é a região francesa dos fondues, que do outro lado dos Alpes são feitos mais ou menos do mesmo jeito, só que aí viram suíços. O fondue era muito bom, a gente comeu a panelinha inteira, então eu perguntei ao garçom e ao chef sobre os tipos de queijo que entravam na receita e eles disseram que usavam uma mistura de gruyère e emmenthal, vinho branco e um pouco de kirsh, mas falaram que, por ali, muita gente usa beaufort e o comté, que também são da região. O garçom era um senhor muito simpático, nascido num vilarejo daqueles que só tem a rua principal, a igreja e meia dúzia de casas bem no meio dos Alpes, e disse que, quando ele era criança, a sua mãe e a avó juntavam os pedaços de queijo mais duros e que sobravam pela cozinha e, quando conseguiam uma quantidade razoável, colocavam todos eles na panela com um pouco de vinho, deixavam derreter e depois todo mundo comia com pão ou com batata cozida, era esse o fondue caseiro e de antigamente. De sobremesa, veio uma panelinha de fondue bem cremoso de chocolate meio-amargo com pedaços de fruta. Se é tão fácil preparar um fondue gostoso em casa, não dá para entender porque tanta gente acha que é um bicho-de-sete-cabeças e vive comprando aqueles prontos de caixinha.Na fazenda, quando anoitece, a gente sempre acende o fogão-de-lenha e o fogo parece que chama as pessoas, todo mundo acaba ficando em volta dele e o jantar acontece por ali. Numa noite eu faço uma sopa, numa outra uma polenta cremosa, um risotto, uma massa ou umas crêpes, ou milho verde e pinhão cozidos (descascar o pinhão com uma faca é mesmo uma tarefa bem chatinha e demorada, mas agora existe um apetrecho que lembra um descaroçador de azeitona e que resolve o problema bem rapidinho). Quando eu não estou com vontade de fazer nada de muito complicado, embrulho batatas em papel-alumínio, coloco todas elas bem no meio das brasas e deixo ali sem mexer por mais ou menos 1 hora 15 minutos, até por uns 15 minutos mais se elas forem muito grandes. Cada um, então, recebe uma batata com a casca bem crocante e a polpa super macia, faz um corte de ponta a ponta, espalha por cima manteiga, requeijão, queijos variados, azeitonas, cubinhos douradinhos de bacon, enfim, o que quiser e tiver na geladeira. Desde que se tenha um braseiro muito quente, também dá para assar as batatas numa lareira, só não dá para deixar de embrulhar no papel-alumínio, sem ele a casca queima muito rápido, mas a polpa fica crua.Quando dá vontade de servir um jantar mais arrumadinho, preparo sem pressa um daqueles pratos rústicos e substanciosos, arrumo a mesa que fica perto do fogão com uma toalha, uns pratos, talheres, copos charmosos, muitas vezes antigos e desemparceirados, uma flor para alegrar e chamo todo mundo. Com o frio, parece que ninguém tem pressa de sair da mesa, o vinho vai embalando as conversas, que ficam mais longas, e o jantar se arrasta até bem tarde, com direito a um conhaque para aquecer a alma ainda mais pouquinho.Junto com esse friozinho chegam aqueles morangos bem gostosos, perfumados, vermelhíssimos e que todo mundo adora. Acho o máximo receber uma tigelinha cheia de morangos ainda com cabinhos e folhinhas. Eu me delicio com eles simplesmente ao natural, mas também gosto quando eles vêm com umas colheradas de suspiro por cima, como minha mãe sempre serviu, ou com um pouco de creme de leite batido em chantilly, ou regados com um tiquinho de vinho ou de vinagre balsâmico, de açúcar e umas folhinhas de hortelã ou de manjericão.E quem gosta de tudo o que é feito com morangos deve mesmo aproveitar a época e preparar algumas receitas com eles. Vai aqui uma receitinha de geléia de morango, daquelas bem saborosas e pedaçudas. Aqueça 1 kg de morango bem maduro e limpo, cortado ao meio e o suco de 1 limão numa panela média. Passados uns 15 minutos, ou quando o morango estiver bem macio e com bastante líquido, junte 3 xícaras de açúcar e mexa até dissolver. Cozinhe por uns 30 minutos, misturando de vez em quando com uma colher de pau, até conseguir uma geléia avermelhada, escura e bem brilhante, mas que dará a impressão de estar mole até esfriar. Para testar, coloque um pratinho no freezer quando começar a trabalhar, retire a panela do fogo passados uns 20 minutos da adição do açúcar, coloque uma colher de chá de geléia no pratinho, espere 1 minuto, ou até criar uma película, e empurre uma das extremidades com a ponta do dedo para ver se enruga. Se a geléia ainda estiver mole e se espalhando, volte ao fogo por mais alguns minutos e repita o teste. Despeje a geléia quente num pote de vidro limpo e bem seco, deixe esfriar, tampe e guarde na geladeira por até 1 mês.Acabei escolhendo 4 receitas de fondue, 2 de queijo, um Fondue de queijos gruyére e emmenthal, super clássico e delicioso, e um Fondue bem cremoso de queijo, que leva requeijão, catupiry, gorgonzola e queijo fundido, e fica muito gostoso, totalmente diferente do primeiro e todo mundo gosta (e se sobrar um pouquinho, ele fica ótimo para passar no pão no outro dia). Como mandam as receitas antigas, esfregue um dente de alho no fundo da panela antes de aquecer e o fondue ficará muito mais saboroso (eu costumo esfregar o dente de alho na panela vazia, depois junto um pouquinho de manteiga, aqueço, espero perfumar e aí acrescento os queijos, vou mexendo até derreter, adiciono o vinho e, se for o caso, o kirsh, que dá um gostinho realmente especial, espero levantar fervura, pesco e descarto o dente de alho e sirvo). Quanto ao pão, os mais rústicos e bem cascudos não só ficam mais gostosos, como também são mais firmes para espetar no garfinho, mergulhar no fondue e sair da panelinha sem desmontar e despencar. Ah, mais uma coisa, quanto à panela: apesar das panelinhas de fondue serem lindas, como elas não são muito grandes e falta espaço para mexer, e o fogareiro é suficiente para manter as coisas quentinhas, mas não é forte o bastante para cozinhar de verdade, é mesmo muito mais fácil preparar o fondue numa panela comum no fogão e transferir para a panelinha na hora de servir. Para a hora da sobremesa, primeiro vem o Fondue de chocolate, que é sucesso na certa, os fanáticos por chocolate deliram, e vai bem com morango, banana, maçã, pêra, mexerica, abacaxi e, também, com pedaços de biscoito champagne ou de pão-de-ló cortado em quadradinhos. Eu gosto de chocolate meio-amargo, que vai bem com o doce das frutas, mas quem prefere um fondue mais doce, ou tem crianças por perto, pode acrescentar uma lata de leite condensado à receita ou usar chocolate ao leite. Depois vem o Fondue cremoso de baunilha, na verdade um creme de confeiteiro aromatizado com bastante baunilha, para servir com figos, tâmaras, ameixas, banana passa e damascos secos, ou morangos frescos e, também, com pedaços de biscoito champagne ou de pão-de-ló cortado em quadradinhos. Como massas cremosas, com molhos espessos e gratinadas no forno têm tudo a ver com esse friozinho e eu queria receitas que pudessem ficar prontas com antecedência, sobrando para perto da hora de servir só ir ao forno para aquecer e gratinar, pensei numa lasanha e, como quase todo mundo gosta, preparei 2 de uma vez: a Lasanha alla bolognese e a Lasanha de cogumelos, as 2 com molhos bem saborosos, queijos derretendo e aquele gratinadinho dourado que fica bom demais. Quanto à massa, é claro que a lasanha fica mais leve quando é feita com massa fresca bem fininha, mas como não é todo mundo que tem pique de preparar a massa em casa, sobram 2 opções: cozinhar as tiras bem largas de massa seca tradicional para lasanha, escorrer bem, uma tarefa que é meio demorada e trabalhosinha, e depois montar no refratário com o molho; ou usar massa para lasanha já pré-cozida, que vai para o refratário do jeito que sai do pacote, recebe bastante molho e vai para o forno, onde termina de cozinhar e é mesmo uma mão-na-roda, deixa o preparo da lasanha muito mas rápido e simples. Há uns anos, quando essas massas pré-cozidas chegaram aos supermercados, elas eram mais grossas e pesadas e, mesmo que se usasse bastante molho, elas ficavam meio elásticas, mas como o tempo passa e até as nonnas vivem correndo e nem sempre conseguem preparar a massa em casa, até a super tradicional Barilla acabou se rendendo aos tempos modernos e passou a fabricar a lasagna pré-cozida, que só precisa de uns 20 minutos de forno. Como pinhão tem tudo a ver com o frio, pensei no Creme de pinhão e carne-seca, que ficou bem gostoso e lindo numa tigelinha (quem estiver com pressa ou com preguiça de descascar pode comprar pinhões já cozidos no supermercado). O Bread pudding de pato confit e cebolinhas caramelizadas tem um ar mais rústico e sofisticado ao mesmo tempo, com o sabor marcante do pato, o adocicado da cebola e o cremosinho do pão só precisa de uma saladinha verde e um vinho para completar a refeição. A Batata assada com picadinho de carne é uma versão mais urbana da batata assada na brasa, já que é preparada no forno. Sugeri o picadinho por ser uma cobertura bem substanciosa e que vale por um almoço ou jantar, mas cada um pode servir a batata com o que quiser. O Salmão defumado com creme de ervilhas fica pronto bem rapidinho e vai bem com umas torradinhas, como aperitivo, ou numa tigelinha como entrada. O Bolo de amêndoa com calda quente de damasco fica bem macio e úmido e combina bem com o azedinho adocicado da calda, delicioso na hora da sobremesa, do lanche ou até no café-da-manhã,. A Torta de morango e pistache ficou realmente divina e linda, um grand finale para qualquer jantar: uma massa muito crocante com as raspinhas do limão, uma base de pistache bem saborosa e esverdeada, e uma camada de morangos levemente cozidos no açúcar e que ficam macios e brilhantes.

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