terça-feira, 1 de abril de 2008

COELHINHO DA PÁSCOA, QUE TRAZES PRÁ MIM,



Acho que toda criança já cantou e sonhou com aquele coelho bem lindo e macio que trás coisas gostosas. Na verdade, hoje em dia, por aqui, nos Estados Unidos e na Europa, o coelho costuma deixar ovos de chocolate para as crianças, mas nem sempre são só ovos, na França elas também vão atrás de peixes e galinhas de chocolate.
Como, em Paris, quase todo mundo mora em apartamento, o coelhinho esconde tudo nos parques e, quando tocam os sinos, as crianças saem correndo para procurar. Eu me lembro perfeitamente do domingo de Páscoa do ano que passei em Paris, com a Bebel, que tinha uns 4 anos, correndo no Champ de Mars num dia tão lindo e azul de começo de primavera para achar os seus chocolates. Eu costumo passar a Páscoa na fazenda, sempre com muitas crianças ainda pequenas e é uma festa. Na noite do sábado, cada uma delas leva um desenho e uma cenoura para um canto do jardim pensando em deixar o coelho bem feliz, aí ele aparece, esconde tudo e, logo cedo, antes do sol esquentar, elas saem procurando e, super felizes, encontram tudo bem rapidinho e, em pouco tempo, a casa tem chocolate por todo lado.Chocolate é mesmo bom demais, é aquele cheirinho delicioso, o gostinho adocicado, um cremoso que derrete na boca e que, de tão bom, parece que consegue até afastar a tristeza e deixar todo mundo mais feliz. Acho que, por isso tudo, é muito difícil achar quem não goste de, pelo menos de vez em quando, dar umas mordidinhas num tablete de chocolate ao leite, meio amargo ou branco na hora em que bate aquela fome de alguma coisa docinha e a Páscoa é a ocasião perfeita para isso. A variedade de chocolates e de coisas feitas com chocolate hoje é enorme, mas nem sempre foi assim. Antes da descoberta das Américas, há pouco mais de 500 anos, os europeus nem sabiam que ele existia, mas os maias e os astecas já usavam o chocolate em bebidas apimentadas, que não levavam nem um pouquinho de açúcar. Os espanhóis experimentaram essa bebida esquisita, acharam interessante e decidiram levar esse ingrediente diferente para a Europa. Um tempo depois, decidiram juntar um pouco de açúcar à bebida de chocolate e gostaram. A partir daí, foram inventando receitas e mais receitas com esse ingrediente incrível, até chegarem aos bolos, biscoitos, pudins, bombons, caramelos, sorvetes e tudo o mais que a gente conhece hoje em dia (ainda bem que isso aconteceu!). Ainda na primeira metade do século XIX, já faz um bom tempo, alguém, pensando na tradição de dar ovos na Páscoa, teve a brilhante idéia de fazer ovos de chocolate. E esses ovos sempre vieram enfeitados com fitas e papéis coloridos e, como são ocos, ainda trazendo uma surpresa dentro. O domingo de Páscoa é um dia de muita alegria pela ressurreição de Cristo, de celebrar a vida. É o dia do renascer depois dos quarenta dias da quaresma, que começa na quarta-feira de cinzas, é um período de muita tristeza, seriedade, resguardo e sacrifício. E o ovo significa tudo isso, e por isso é tão importante, simboliza essa vida nova, a fertilidade, o amor e a esperança. Como, durante a quaresma, não se podia comer o ovo, as pessoas antigamente costumavam levar ovos à igreja no sábado de Aleluia para que fossem abençoados e serviam no dia seguinte, o domingo de Páscoa. Mas a tradição de dar ovos de verdade nessa época do ano, que no hemisfério norte é o início da primavera, já aparecia na China há mais de 3 mil anos, era sinal de boa sorte, de vida nova e eterna (eles cozinhavam os ovos no chá ou na água com casca de cebola para tingir as cascas). Na Europa, esse presentear com ovos cozidos coloridos passou a fazer parte das tradições pagãs para celebrar a chegada da primavera, o florescer, a fartura de alimentos que vinha com ela depois de um inverno rigoroso. E, com o cristianismo, o presentear com ovos passou a ter outros significados. Colorir ovos de verdade para servir simplesmente cozidos no almoço do domingo de Páscoa pode virar uma brincadeira bem divertida com as crianças. Já fiz isso com as minhas filhas e elas adoraram: com um giz de cera branco, faça desenhos miúdos na casca de vários ovos brancos, depois mergulhe os ovos em panelinhas com água já tingidas com anilina apropriada para fins alimentícios e de várias cores diferentes, cozinhe por uns 13 minutos contados da fervura, depois escorra e coloque os ovos coloridos num prato e leve à mesa (os desenhos aparecem porque a anilina não colore as linhas riscadas com o giz de cera). Chega, então, a hora de ir para a cozinha preparar um almoço de Páscoa para a família e os amigos. Principalmente na Europa, muita gente, ainda que hoje em dia sem pensar no significado, serve no almoço de Páscoa os três alimentos básicos da Santa Ceia, o cordeiro, que significa a inocência e sempre representou sacrifícios, o pão e o vinho. Na Toscana, por exemplo, não há almoço de Páscoa sem assado de cabrito ou de cordeiro, na imensa maioria das vezes com alecrim, alho, azeite e vinho. Quando o prato principal não é um cordeiro, é um bacalhau. Mas o bacalhau não tem a ver não só com o domingo de Páscoa, mas com a quaresma inteira e principalmente com o almoço da sexta-feira da Paixão, já que, por séculos e séculos, com a restrição de comer carnes e ovos, o peixe era a única carne permitida nesse período de sacrifícios e ele era um peixe bom, barato e que, por ser seco e salgado, era de conservação muito fácil. Além do mais, o bacalhau é super versátil, vai bem com quase tudo e pode ser preparado de mil jeitos diferentes. Pode ser assado, cozido, frito, ensopado, simplesmente dourado no azeite para comer com arroz, verduras ou legumes, batata, uma polenta ou até mesmo com uma fatia de pão. Hoje em dia, o mundo está bem diferente, quase ninguém mais faz esses sacrifícios na quaresma inteira e, ainda que fizesse, não seria complicado achar peixes frescos, verduras e legumes e conservar na geladeira, mas antigamente tudo era mais difícil. E, para complicar ainda mais, na Europa, a quaresma ainda coincidia com o final do inverno, um tempo de escassez mesmo, de despensas quase vazias e falta total de alimentos frescos. Pães com uma massa bem rica em ovos também são bem tradicionais tanto em Portugal, como na Itália. Às vezes o pão é simples, só a massa e pronto, às vezes vem recheado de bacalhau refogado com cebolas, lingüiça ou ricota. Muitas vezes o pão é moldado em formatos diferentes, como corações, tranças, bonecas, galinhas e galos, pombas, por cima ainda leva alguns ovos cozidos inteiros, com casca e tudo, algumas vezes tingida de colorido, e vira um presente para as pessoas queridas. . Para adoçar, a tradição pede uma boa torta de ricota com pedacinhos de laranja cristalizada (ou uma pastiera di grano, que é uma torta com um recheio de ricota enriquecido com grãos de trigo, que, antigamente, homenageavam Demétrio, que simbolizava fertilidade e fartura nas colheitas), um biscotti (uns biscoito bem sequinho com frutas secas) para servir com uma taça de vin santo. Com ricota, na Itália também existem várias versões de tortas salgadas pasqualinas, algumas levando espinafre, queijo e outras verduras. A Colomba, um pão doce que veio da Lombardia, com uma massa bem parecida com a do panetone, tem o formato de uma pomba que, nos tempos das festas pagãs, simbolizava a chegada da primavera e, com o cristianismo, passou a representar o Espírito Santo. E, na Sicília, eles preparam uns carneirinhos lindos de marzipã recheado com uma geléia de limão. Enfim, é difícil ter uma outra festa tão cheia de simbolismos e gostosa. Imaginando que o coelhinho pode aparecer na cozinha a qualquer hora e vai adorar encontrar alguma coisa bem gostosa, preparei a Sopa de cenoura com laranja e especiarias, que mistura o cremoso e ligeiramente adocicado da cenoura, com o azedinho da laranja e o perfume das especiarias, e vai bem tanto numa noite mais quente, como numa mais fresquinha, e tanto numa porção maior, num prato fundo, como num potinho pequeno como uma entradinha. De Portugal eu trouxe um Folar de Páscoa, um pão realmente lindo que, por lá, é um presente de Páscoa e é de dar água na boca, com uma massa bem macia pelos ovos e com aquele saborzinho especial do azeite, e que, muitas vezes, também aparece recheado com bacalhau ou lingüiça refogados com cebolas. Escolhi 3 receitas para prato principal: a primeira delas um Bacalhau à Brás, um clássico bem simples, fácil de fazer, que não custa muito, já que dá para usar um bacalhau em lascas, e sempre agrada; a segunda é um Pernil de cordeiro ao forno, assado bem devagar com vinho, azeite e muitas ervas até ficar muito macio, com a carne se separando e se desmanchando; e a terceira é um Filé-mignon recheado com presunto cru, shiitake e ervas, que sempre impressiona e não é difícil de preparar. Fiquei pensando, pensando na hora da sobremesa e acabei decidindo por 2 receitas geladas usando chocolate, já que quase todo mundo adora e tem tudo a ver com Páscoa, o Fondant de chocolate, que fica delicioso, muito macio e cremoso, mas é um pouco mais consistente que uma mousse, já que dá para desenformar e cortar em fatias (usei chocolate meio-amargo, mas se quiser troque por chocolate ao leite); e o Gelado de três chocolates, que, na verdade, é quase um sorvete, fica gostoso pela mistura dos chocolates meio-amargo, ao leite e branco, e ainda fica lindo num pote de vidro transparente. A terceira sobremesa é uma super clássica e tradicional Torta de ricota, servida na Páscoa em quase toda cada italiana e que vai muito bem com um cálice de vin santo. Pensando não só no domingo de Páscoa, mas nos dias todos do feriado, quando a maioria das pessoas está viajando e descansando e, portanto, vive querendo beliscar coisas gostosas desde a hora do café-da-manhã até bem tarde da noite, eu escolhi 4 receitas: o Muffin de cenoura, que ficou bem gostoso e diferente com a massa que leva aveia e mel; o Coelhinho de pão de mel, que ficou lindinho, bem saboroso e úmido; a Colomba pascal, que é bem tradicional, não é difícil de preparar e fica com aquele gostinho de feito em casa, bem diferente das industrializadas; e os Biscoitinhos de baunilha e chocolate, bem crocantes, saborosos e que permitem mil e uma invencionices, pois dá para cortar tanto a massa clara, como a escura, com cortadores no formato de ovo ou de coelhinho (eu cortei coelhinhos brancos e escuros e, nos brancos, coloque uma bolinha escura no lugar do olhinho e, nos escuros fiz o contrário), ou também brincar de mesclar as duas massas para moldar biscoitos de duas cores fazendo xadrês, espirais e listras.

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